quinta-feira, 27 de junho de 2013

EU ACREDITO

fazer um teste para uma oportunidade que se deseja muito, sempre gera expectativas. passei por isso nos últimos dias. um desses testes em que temos que fazer uma cena, para mostrar nossas habilidades. nossa capacidade de interpretar. depois de dedicar meu pensamento, procurar textos, encontrei um que continha o que eu queria dizer. reli o texto e encontrei o trecho que eu faria. decupei as frases, decifrei as palavras, repeti o texto em voz alta de incontáveis maneiras diferentes. repeti sozinha na sala, de frente pro espelho do banheiro, durante o banho. filmei na webcam, gravei a voz no celular... tudo para tentar encontrar a maneira mais orgânica de dizer um texto que não é meu, como se fosse. 
chegou o dia. na antessala do auditório ainda repeti mais algumas vezes as palavras para me certificar de que elas ainda estavam dentro de mim. adentro o auditório, uma conversa rápida com meu avaliador e pronto. não há mais como fugir. "agora é a hora de mostrar para o mundo o que você tem falado sozinha há dias. " levanto-me e faço a cena. apesar do nervosismo, a cena fluiu bem. procurei aproveitar as palavras e as pausas e acredito que de certa forma consegui tocar o outro. seu agradecimento no final da conversa me deu a entender que sim.
depois de alguns dias,  no entanto, descobri que não tinha passado no teste. mais um: "não foi dessa vez." difícil lidar com a frustração de não passar. atores, egos, aquela coisa. mas no fundo é normal. não foi a primeira, nem será a última vez que terei que encarar um não. nós atores temos que aprender a lidar com isso se quisermos exercer nosso ofício. e o texto que eu escolhi para o teste representa exatamente o meu sentimento de atriz em momentos de frustração como este. onde um não pode determinar o destino de atores sem força para continuar. trata-se de um trecho da peça a gaivota de anton tchekhov. a personagem é nina.

" agora eu sei kóstia, agora eu compreendo. que no nosso trabalho, representando no palco ou escrevendo, o que importa não é a glória. não é o esplendor com que eu tanto sonhava, mas sim, a capacidade de suportar. aprenda a carregar sua cruz e acredite. eu acredito, e assim nem sofro tanto. quando penso na minha vocação, não sinto medo da vida. "



Um comentário:

Luis Santos disse...

Se me permite comentar, acho que você escolheu um pouco mal o texto. É claro que faz parte da vida do ator a recusa em um teste. Na vida de qualquer um, mas na arte de atuar essa experiência ocorre com mais fidelidade. Mas, mesmo fazendo parte, é necessário entender que o objetivo é ser aprovada. Sempre.

E acho que o seu texto fez referência demais a essa situação. Foi quase uma metainterpretação, que de certa forma revelou (mesma que você aparentemente não o estivesse) ser nervosismo ao avaliador.